quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O veneno está na mesa

Uma pesquisa realizada com 62 mães em processo de amamentação na cidade de Rio Verde (MT) revelou que 100% delas tinham agrotóxicos no leite materno. O diagnóstico – assustador – feito pelo dr. Wanderlei Pignati e pela mestranda da saúde Danielly Palma, da Universidade Federal do Mato Grosso, faz parte do filme “O veneno está na mesa”, do documentarista e cineasta Silvio Tendler, que denuncia o uso abusivo de agrotóxicos no país.

80% das mães pesquisadas tinham DDE, que é proibido no Brasil há mais de uma década, o que significa que elas consumiram e foram impregnadas na infância ou há o uso clandestino do agrotóxico. O documento lançado em agosto último é impactante, assustador, porém providencial, para que o tema seja colocado no debate do dia.

Em entrevista à revista “Nordeste Vinteum”, editada no Ceará, Tendler fez o alerta que os agricultores estão morrendo nas plantações, em consequência de uma sociedade predatória que é capaz de matar em troca de lucro. Ele revela que no campo a população é obrigada pelas circunstâncias a conviver e manipular o veneno, o que gera muitas doenças profissionais e mata. Na cidade, as pessoas consomem a comida “envenenada”. O impacto na saúde reflete no orçamento do país.

Tendler revela que “as doenças profissionais consomem 50 milhões de reais por ano dos brasileiros, o que equivale a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.” Grande parte desse valor, segundo pesquisa, é destinada para tratamento de vítimas de agrotóxicos. Um contraponto forte para a tese de que a agricultura com agrotóxico é mais barata e rentável.

O Sistema Único de Saúde (SUS) paga a conta. O mais grave, alerta o cineasta, é que o governo brasileiro não está fazendo nada. Os fabricantes de agrotóxicos ditam as regras. Venenos que são proibidos na China, nos Estados Unidos, na Europa e na África são permitidos no Brasil, obrigando o brasileiro a viver numa sociedade que é capaz de matar em troca de lucro. “Os transgênicos e os agrotóxicos são garantia exigida pelos bancos para financiar a safra do agricultor. Nós comemos comida podre porque os bancos pedem isso como garantia”, denuncia Tendler.
(César Santos-De Fato)

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