segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Brasil troca segredos inteiros por meias palavras

Desde que o ex-analista de inteligência americano Edward Snowden jogou o papelório secreto da NSA no ventilador, Washington mede as palavras. As autoridades americanas dizem pouco. Mas sugerem muito. Na semana passada antes de voar para o encontro do G20, na Rússia, onde encontraria uma abespinhada Dilma Rousseff, Barack Obama caprichou nas meias palavras.

Disse: “Como outros países, temos uma operação de inteligência que tenta melhorar nossa compreensão sobre o que acontece ao redor do mundo.” Acrescentou: “Da mesma forma que nossa capacidade militar é significativamente maior do que a de muitos outros países, isso também vale para nossa inteligência. Embora tenhamos os mesmos objetivos, nossos meios são significativamente maiores.”

O que Obama declarou, com outras palavras, foi o seguinte: 1) fazemos, sim. Mas outros também fazem. Quem não faz já fez. Ou ainda fará. 2) em matéria de espionagem, a diferença entre o dinheiro miúdo e o dinheiro graúdo é que este, naturalmente, espiona mais. E aquele, obviamente, não dispõe dos recursos necessários para evitar.

A julgar pelo resultado do encontro com Dilma, Obama foi à conversa munido de sua régua. A presidente brasileira anunciaria depois que, durante o meio diálogo, o colega americano comprometeu-se a dar boas explicações até esta quarta-feira (11). De duas, uma: ou Obama anda espionando Lula ou exagera no cinismo ao insinuar que não sabia e que precisa de uns dias para se informar.

Dilma afirmou aos jornalistas que quer saber tudo o que os EUA têm sobre o Brasil. “Em inglês: everything”, ela enfatizou. Supondo-se que a presidenta não seja uma criatura ingênua, pode-se depreender que ela joga para sua galera. Sabe que não terá de Obama nada além de entrelinhas e subentendidos. Também sabe que a espionagem vai continuar.

Na noite deste domingo (8), três dias antes do prazo fixado para a chegada das meias palavras de Obama, foi ao ar a penúltima palavra inteira extraída dos papéis ultrassecretos da agência de segurança americana: ‘Petrobras’. Quer dizer: antes de exigir novas explicações de Obama, Dilma deveria pensar em mandar comprar um satélite próprio e tirar do papel o plano de defesa cibernética.
Enquanto persistir a troca de segredos inteiros por explicações pela metade, a turma da NSA ganhará todos os jogos. Pior: tão cedo não surigirá outro Edward Snowden para avisar que partes da anatomia nacional foram apalpadas pela Casa Branca.
(Josias de Sousa)


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