Desde que o ex-analista de inteligência americano
Edward Snowden jogou o papelório secreto da NSA no ventilador,
Washington mede as palavras. As autoridades americanas dizem pouco. Mas
sugerem muito. Na semana passada antes de voar para o encontro do G20,
na Rússia, onde encontraria uma abespinhada Dilma Rousseff, Barack Obama
caprichou nas meias palavras.
Disse: “Como outros países, temos
uma operação de inteligência que tenta melhorar nossa compreensão sobre o
que acontece ao redor do mundo.” Acrescentou: “Da mesma forma que nossa
capacidade militar é significativamente maior do que a de muitos outros
países, isso também vale para nossa inteligência. Embora tenhamos os
mesmos objetivos, nossos meios são significativamente maiores.”
O
que Obama declarou, com outras palavras, foi o seguinte: 1) fazemos,
sim. Mas outros também fazem. Quem não faz já fez. Ou ainda fará. 2) em
matéria de espionagem, a diferença entre o dinheiro miúdo e o dinheiro
graúdo é que este, naturalmente, espiona mais. E aquele, obviamente, não
dispõe dos recursos necessários para evitar.
A julgar pelo
resultado do encontro com Dilma, Obama foi à conversa munido de sua
régua. A presidente brasileira anunciaria depois que, durante o meio
diálogo, o colega americano comprometeu-se a dar boas explicações até
esta quarta-feira (11). De duas, uma: ou Obama anda espionando Lula ou
exagera no cinismo ao insinuar que não sabia e que precisa de uns dias
para se informar.
Dilma afirmou aos jornalistas que quer saber
tudo o que os EUA têm sobre o Brasil. “Em inglês: everything”, ela
enfatizou. Supondo-se que a presidenta não seja uma criatura
ingênua, pode-se depreender que ela joga para sua galera. Sabe que não
terá de Obama nada além de entrelinhas e subentendidos. Também sabe que a
espionagem vai continuar.
Na noite deste domingo (8), três dias
antes do prazo fixado para a chegada das meias palavras de Obama, foi ao
ar a penúltima palavra inteira extraída dos papéis ultrassecretos da
agência de segurança americana: ‘Petrobras’.
Quer dizer: antes de exigir novas explicações de Obama, Dilma deveria
pensar em mandar comprar um satélite próprio e tirar do papel o plano de
defesa cibernética.
Enquanto
persistir a troca de segredos inteiros por explicações pela metade, a
turma da NSA ganhará todos os jogos. Pior: tão cedo não surigirá outro
Edward Snowden para avisar que partes da anatomia nacional foram
apalpadas pela Casa Branca.
(Josias de Sousa)
(Josias de Sousa)
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