domingo, 4 de março de 2007

ENTREVISTA COM O VECE-PREFEITO ANTONIO PIRES
Ontem, às 15:30h cheguei a sede da Prefeitura Municipal de Alexandria para fazer uma entrevista com o então prefeito em exercício Antonio Moreira Pires. Bem mais descontraído – brincou dizendo que pela primeira vez nesses 40 dias havia almoçado bem – praticou o seu último ato como chefe do Executivo Municipal, entregando a chave do veículo oficial do gabinete civil, foi quando começamos a entrevista.

J. Gomes – Antonio Pires, dia 24 de janeiro você assumiu o Executivo Municipal e tomou medidas antipáticas, exonerando os cargos comissionados. Essa medida não poderá prejudicá-lo politicamente?
Antonio Pires – No geral eu acho que não. O povo de Alexandria sabe que as medidas tomadas foram para o bom funcionamento da administração. Além do mais eu assumi uma prefeitura com mais de 100 cargos comissionados e eu precisava saber com quem poderia contar, quais são as pessoas mais úteis. E em Alexandria precisava ser feito isso.
Na enquête do seu arquivo vip, 63% do povo de Alexandria aprovou as minhas medidas que eu tomei. Agora, se tem uma minoria que achou ruim, e eu acho natural, porque de qualquer maneira mexe no bolso de alguém.

J. Gomes – As medidas tomadas foram também para um enxugamento na folha dos cargos comissionados?
Antonio Pires – Na medida em que vive a Prefeitura Municipal, com enormes dívidas trabalhistas que têm que ser pagas porque a justiça não quer saber de onde vai se tirar o dinheiro, foi. E todos os dias estão surgindo, nesses 40 dias que eu passei aqui, recebi mais de 30 processos e a prefeitura vai ter que pagar nesses 60 dias. E a Prefeitura vai tirar de onde? Tem que haver cortes de funcionários e diminuir os gastos com fornecedores. Nesse caso se não fizer uma adequação da receita/despesa, vai ficar difícil de fazer.
Alberto vai assumir amanhã e eu tenho certeza que ele vai manter e vai ter que fazer ainda muita coisa que precisa ser feita para dar continuidade e ele possa botar o funcionalismo em dia.

J. Gomes – Você falou sobre os salários em dia. Disse que ia lutar para fazê-lo, mas não conseguiu. Você acredita que mesmo através dessas medidas, por os salários em dia, terá que ser em longo prazo?
Antonio Pires – Eu só passei aqui 40 dias, não tinha como colocar em dia. Mesmo assim quase todos os recursos que entraram nos cofres da prefeitura foram para pagamento de funcionalismo. Com os 60% do Fundef já pagamos até o mês de fevereiro da educação. Tem secretarias que já pagamos dezembro e outras novembro. Mas se continuar com o pensamento voltado para o funcionalismo, dentro de 60 dias a administração estará pagando em dia o funcionalismo.
A gente precisa ver também, que o que mais motivou esse atraso foi à dívida com o INSS, que a prefeitura teve que desembolsar R$ 110 mil reais, e esse valor é equivalente a um mês do funcionalismo. E nesse mês de fevereiro ainda tivemos que pagar mais r$ 14 mil à previdência. E nós temos que pagar, ou se paga ou são bloqueados todos os recursos que entra na prefeitura.

J. Gomes – Você conseguiu abater um pouco da dívida com fornecedores?
Antonio Pires – Conseguimos abater um pouco. Aonde nós não conseguimos abater não aumentamos a conta.

J. Gomes – qual o ponto de destaque da sua administração nesses 40 dias?
Antonio Pires – eu acho que o mais positivo foi a minha permanência na cidade durante esses 40 dias. Todos os dias dei expediente aqui na prefeitura, atendi a todos, não voltou ninguém sem ser atendido. A quem foi preciso dar o “sim” eu dei e a quem foi preciso dar o “não” eu dei.
Na saúde atendemos praticamente todos os pedidos, ate porque são pessoas pobres que procuram a prefeitura para transportar um doente para Natal, Sousa, Mossoró, Pau dos Ferros... Isso nós fizemos eu acho que 99%.
Na educação fizemos compra de material, farda (Peti), material de expediente e tudo isso comprando à vista, pesquisando o melhor preço.
No início das chuvas o esgotamento deu problema e nós fizemos mais de 90m de esgoto nesses últimos dias, trabalhando de segunda a domingo.

J. Gomes – Em que escala de 1 a 10 você pode colocar a sua administração com relação aos gastos?
Antonio Pires – Olha J. Gomes, eu não vou falar em números, mas eu vou te dar um exemplo. Combustível: a nossa conta nesse mês de fevereiro foi de R$ 14 mil, foi a menor dos últimos 12 anos segundo o fornecedor da prefeitura, o Posto Bruno de Almeida. Nós temos um posto que abastece em Natal e nós fizemos foi diminuir, abastecendo a vista, já que a conta está alta e atrasada e a forma de pagar é comprando a vista e abatendo essa conta aos poucos.

J. Gomes – Quando você assumiu pediu na Câmara Municipal que os vereadores o ajudassem a administrar. Na quinta-feira na leitura da Mensagem Anual naquela casa você foi aplaudido. Como explica essa sintonia com a maioria oposicionista que vinha fazendo uma oposição acirrada sobre o Executivo?
Antonio Pires – Eu não pedi somente para os 40 dias que eu passei aqui, eu pedi por Alexandria. Eles que estão ali como representantes do povo, legitimados pelo voto, que olhassem mais por Alexandria. Oposição é bom, faz parte da democracia e muitas vezes até ajuda. Se alguma coisa tivesse dado errado, eu ficaria muito satisfeito se algum vereador me corrigisse. Mas graças a Deus, todos os 9 vereadores foram unânimes em nos apoiar. Eu espero que eles continuem na volta de Alberto, mesmo fazendo oposição, mas ajudando, sobretudo Alexandria.

J. Gomes - Mas a Câmara Municipal deu um exemplo antidemocrático quando fez eleição para presidentes e membros das Comissões Permanentes e nessas comissões foram excluídos todos os vereadores da situação, sem contar que feriu o Regimento Interno no seu artigo 41, inciso 01, 02 e 03, quando diz que nenhum membro da mesa diretora pode participar das comissões. Você não acha que isso já pode ser um recado para Alberto que estará assumindo?
Antonio Pires – Eu não sei bem como é o Regimento Interno nesse caso. Se for correto o que os cinco vereadores fizeram tudo bem, agora se cometeram erro vão ter que se justificarem perante a opinião pública e talvez até perante a justiça.
A minha vida pública, na sua maioria, foi feita na oposição, fui candidato a prefeito em 76, em 92 fui novamente candidato da oposição, dessa vez a vice e sempre com derrotas, mas aprendi muito. E eu acredito que a gente tem que respeitar o pensamento da maioria do povo.

J. Gomes – Alberto Patrício assumiu a prefeitura por 15 dias quando era vice de Nei Rossatto e a população aprovou, foi candidato e hoje é o prefeito de Alexandria. Essa história pode se repetir com você?
Antonio Pires – Não. Até porque eu acho que Alberto tem direito a reeleição, embora eu não saiba o pensamento dele. Eu tenho 61 anos e 37 de política, eu acho que é tempo de descansar, já dei a minha contribuição por Alexandria. Eu acho que não vai acontecer em 2008 o que aconteceu em 2004.

J. Gomes – Pra encerrar eu quero que você deixe a sua mensagem para o povo e o que você diria para Alberto que está retornando ao cargo.
Antonio Pires – Primeiramente agradecer aos secretários, que em todos os momentos ficaram comigo, às vezes até excedendo o expediente normal. Agradeço aos funcionários de uma forma geral, ao pessoal que trabalha no pesado, os garis, o pessoal da Secretaria de Obras que teve um trabalho especial nesses dias. A Câmara de vereadores com a manifestação de apoio a nossa conduta administrativa e a você também que tão bem representa Alexandria pelo mundo com o arquivo vip.
Eu quero dizer ao nosso prefeito Alberto, que a primeira coisa que ele tem que fazer é ficar aqui na prefeitura. Aqui é o lugar onde o prefeito administra e recebe as pessoas. Esse é o caminho que Alberto precisa seguir. Foi assim que eu fiz nesses 40 dias e funcionou e eu acho que a partir de segunda-feira quando ele assumir, vai continuar funcionando.

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