Quando o PT estava completando 29 anos, no ano passado, a jornalista Lúcia Hipólito mostrou com nitidez o perfil do Partido dos Trabalhadores. Do passado e de hoje. O artigo irretocável com o título “O futuro do PT – a vitória dos pelegos” merece leitura na passagem dos 30 anos, hoje. Leia:
“O PT nasceu de cesariana, há 29 (30) anos. O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base. Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira. Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT.
Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery. Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento de um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado. O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo; preferia o socialismo. Era revolucionário.
Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras. O PT lançava e elegia candidatos, mas não “dançava conforme a música”. Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas. O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto. Mas, nos Estados, o partido começava a ganhar Prefeituras e Governos, fruto de alianças, conversas e conchavos.
E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros. Tudo muito chique, conforme o figurino. E em 2002, o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve de se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve de abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas. A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plínio de Arruda Sampaio Júnior. Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloísa Helena, em 2004, levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.
Os militantes ligados à Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida Frei Betto. E agora, bem mais recentemente, o senador Flavio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica. Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido. Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas. Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64. Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República. Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos Estados e municípios. Além do Governo Federal, naturalmente. É o triunfo da pelegada.”
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